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Por: Leonardo Miranda*

Recentemente fui tomado por um pensamento: "Como é possível que a junção de um espermatozoide e um óvulo resulte num ser humano? E como é possível que os cromossomos de nossos pais carreguem as capacidades para nos tornarmos seres pensantes?”.

Uma pessoa minimamente esclarecida pode dizer que a Ciência dá as respostas. Mas, explicar como algo acontece não é o mesmo que informar sua origem. Note, todas as áreas do conhecimento possuem limite: a Filosofia com perguntas e a Ciência com respostas. A Teologia é a única que faz as perguntas sobre a origem e dá as respostas.

A falta do conhecimento bíblico resulta em ignorância existencial. De nada adianta dar uma resposta científica se ela não informa a origem dos fenômenos. E isso acontece por causa do pecado que cauteriza a capacidade humana de deslumbrar. Daí meu espanto com a falta de Espanto. As pessoas perderam a capacidade de se encantar com o que existe.

Jostein Gaarder, filósofo norueguês, inicia seu livro O Mundo de Sofia dizendo que devemos olhar para a vida e para a realidade e nos espantarmos com o que existe! 

Esse encanto diante da realidade pode ser considerado uma manifestação de fé (a partir da Graça Comum) que testifica de forma pré racional, em nossa consciência, que o mundo e tudo o que nele há não é fruto do acaso. Portanto, até para aqueles que se declaram ateus ou agnósticos, há um “incômodo”, uma necessidade de que Algo exista para explicar a realidade. 

Tal fascínio é a capacidade que o Criador deu à criatura para que pudesse adorá-lo ao contemplar a natureza. Trata-se do homem experimentar, em parceria com Deus, o contentamento por si e pelo restante da Criação. Pena que o pecado obliterou até a percepção sobre a origem do Espanto!

O que torna o Evangelho verdade, é que Deus se dispõe a vir ao encontro dos homens libertando-os da cegueira espiritual, renovando-lhes a capacidade de se espantarem com a Criação e perceberem como sua estrutura, funcionamento e variedade de seres e objetos revelam os atributos de Deus e apontam para sua beleza e glória.

Então, sejamos gratos a Deus e usemos o Espanto corretamente resultando em adoração.

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* Leonardo é teólogo e professor de filosofia.

Por: Leonardo Miranda*

O espanto é a habilidade de se encantar com a realidade. Søren Kierkegaard, filósofo e teólogo dinamarquês do século XIX, concluiu que o ser humano, após a Queda, vive uma angústia e um desespero que surgem ao refletir sobre sua existência: instintivamente ele sabe que é mais do que um animal, pois possui autoconsciência, sabe que existe e que pode escolher, mas também sabe que é limitado e mortal.

De acordo com a Bíblia, o homem é um ser espiritual que vive no tempo (finitude) mas é chamado para o infinito (eternidade). E, por causa do pecado, essa tensão entre o finito e o infinito, entre o que é e o que deve ser, provoca o desespero.

Segundo Kierkegaard, há três formas de desespero: 1) por ignorância – quando a pessoa não percebe que tem uma alma eterna; 2) por não se aceitar – quando foge da responsabilidade existencial, tentando se perder na massa, nas distrações, no hedonismo; e 3) por se aceitar, mas sem Deus – quando a pessoa quer ser totalmente autônoma.

Francis Schaeffer, teólogo e evangelista no século XX, concluiu que, por falta de interpretação correta, as ideias de Kierkegaard abriram caminho para a crença de que cada pessoa cria seu próprio sentido para a vida.

A realidade passou a ser interpretada como uma casa de dois andares: embaixo é o mundo material racional, objetivo, que leva ao desespero porque não dá sentido último à vida; e em cima é o mundo da fé irracional, subjetiva.

O resultado imediato é a perda da capacidade do Espanto. Já que, para o não regenerado, a razão humana é supostamente incapaz de alcançar Deus, então não há necessidade de se buscar respostas para a origem dos fenômenos observados na realidade, basta tentar explicar seu funcionamento.

Porém, na perspectiva bíblica, fé e razão devem ser integradas, e o Espanto é o resultado prático dessa junção. O desespero humano é resultado do pecado e da separação de Deus. E apenas a iluminação do Espírito Santo pela Palavra, através da fé dada por Deus, é capaz de sanar o desespero existencial que mina o Espanto.

Somente quando os homens são resgatados de sua ignorância pecaminosa é que têm sua capacidade de Espanto renovada.

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* Leonardo é teólogo e professor de filosofia.