Por: José A. Nogueira
Você já ouviu falar em “Transtorno Disfórico Pré Menstrual"? Certamente este nome é pouco popular, mas já ouviu falar em TPM, ou Tensão Pré-menstrual.
O ciclo menstrual feminino, embora tenha ganho destaque nas discussões entre profissionais da saúde e das atividades forenses - devido à gravidade das consequências geradas neste período, ainda é assunto a ser tratado na expectativa de manter as pessoas informadas sobre este aspecto extremamente relevante.
Há extremo desconforto causado neste período que afeta socialmente a mulher: em seu estado orgânico, emocional e até na sua prática religiosa.
Segundo pesquisas realizadas ao longo dos anos, este estado natural do curso evolutivo das mulheres - época que antecede o período de sua fertilidade, pode estar associado ao estresse de toda uma geração com suas mudanças e exigências de adaptação.
Dr. Robert T. Frank, Médico e Ginecologista, em 1931, faz a primeira descrição científica para os sintomas que caracterizam o acúmulo de hormônios sexuais no organismo de uma mulher neste período. Esta descrição, varia suas características entre os quadros mais leves, como fadiga e cansaço, aos quadros clínicos mais severos, implicando o surgimento de doenças como a asma e até a epilepsia.
Quadros de tensão nervosa, também podem caracterizar o fenômeno e até levar uma mulher ao suicídio. A estes sintomas, FRANK nomeou: Tensão Pré-menstrual. Posteriormente, devido as características clínicas e a gravidade dos sintomas, este se torna um transtorno característico de algumas mulheres em especial.
Como podemos perceber, o período ligado a capacidade de fertilidade feminina, traz mais que quadros de irritação que possam causar alguma espécie de desconforto. O problema também, pode gerar numerosas consequências que oferecem risco à sua integridade física, emocional e objetiva.
Com todos os avanços e pesquisas em volta do assunto, surgiram novas teorias e vários resultados que foram avançando na expectativa de dar explicações ao acontecimento periódico no processo de evolução e de adaptação do corpo feminino.
Katherine Dalton, médica inglesa, devido ao número de sintomas encontrados na forma física e psíquica de uma mulher neste período, modifica o termo “tensão” para “síndrome” e a Tensão Pré Menstrual, passa a chamar: Síndrome Pré Menstrual.
Em 1994, houve uma revisão e uma nova denominação pela Associação Psiquiátrica Americana, que sofria as considerações dos grupos feministas ao incluírem o transtorno no novo Manual de Diagnóstico e Estatísticas dos Transtornos Mentais da época, o DSM III. A revisão acrescida de critérios diagnósticos operacionais para a tensão, passa a ser nomeada: Transtorno Disfórico Pré-menstrual, ou TDPM.
O uso deste termo, entra no DSM IV como um subtipo de transtorno afetivo, classificado como um tipo de transtorno disfórico da fase lútea e tardia da mulher. Transtorno que surge num momento de adaptação do corpo feminino para o fenômeno de gestação, capaz de alterar temporariamente e de maneira repentina o estado de humor de uma mulher. Este fenômeno hormonal, pode causar profunda tristeza, sentimento de auto piedade, baixa autoestima, angustia, melancolia e depressão.
Em sua forma mais grave, podemos dizer que, tamanho desconforto, pode estar hipoteticamente associado a descontrole de certos neurotransmissores no organismo, como a serotonina e a noradrenalina, por exemplo. Estes neurotransmissores, se relacionam aos sintomas disfóricos como no caso: irritação, compulsão, tristeza e mal estar.
A serotonina por exemplo, é uma substância bioquímica, envolvida na comunicação entre neurônios e que fundamenta a percepção quanto a avaliação do campo de visão de uma mulher. Este neurotransmissor, tem capacidade de estabelecer respostas aos estímulos ambientais, a ausência dele, é capaz de causar problemas em relação a condição da mulher de perceber, entender, compreender e até responder às sugestões do meio.
Assim como a serotonina, a noradrenalina, a adrenalina e a dopamina, tornam-se um composto químico importante que circula 50% em nosso sangue ligada a proteínas plasmáticas. Esses compostos são liberados pelo organismo em situações de estresse psicológico e em casos de hipoglicemia e estas substâncias mantém a pressão sanguínea sob controle e em níveis absolutamente normais no organismo.
A redução no equilíbrio destes neurotransmissores, explica, por exemplo, vários sintomas que costumam aparecer logo no momento da chegada do ciclo menstrual.
Para muitas mulheres, este é o estágio em que ocorre o aumento da tensão e surge aí, uma irritabilidade profunda e intensa, mudanças repentinas no seu estado de humor, alterações cardiovasculares e outros sintomas absolutamente desconfortáveis.
Para a maior parte do público feminino, os maiores contratempos a serem enfrentados neste período, que se inicia entre os dez aos treze anos de idade, e que termina aproximadamente quando a mulher atinge os seus cinquenta anos ou menos, está entre a incompreensão do parceiro masculino e nos problemas de causa social que estas mudanças do ciclo proporcionam na chegada de sua fertilidade.
Para isso desenvolvemos o artigo e a ideia, é atingir o maior número possível de pessoas que possam se interessar pelo assunto, na intenção de manterem uma relação saudável neste período tão complicado na vida de um casal, amigos e parceiros de trabalho.
Lamentavelmente, uma boa parte das pessoas do sexo masculino, negam buscar informações sobre este e outros assuntos relacionados ao meio de vida da mulher. Temas também, como: família, relacionamento entre pais e filhos, saúde do homem e afins, são da mesma forma evitados.
O cérebro masculino é um cérebro sistêmico e desde criança é programado. Segundo pesquisas levantadas pelas universidades, o cérebro de um homem responde a uma programação de tarefas hábeis e práticas.
Ao contrário dos homens, as mulheres com todo funcionamento do seu cérebro empático, são dirigidas para a vida civil, desenvolvendo respostas ambientais precisas, na expectativa de cuidar, amar, interagir e se dar socialmente e pessoalmente com o meio e com seus filhos.
Isso quer dizer, que o homem dificilmente estenderá sua atenção para situações do campo social com mais ferocidade que as mulheres, porque são as mulheres quem tem esta programação instintiva de proteger a prole e a capacidade de estender este campo de visão a uma distância maior entre o convivo das espécies. Os homens se dispõem à ação, à atividade, ao ato e a tarefas que exigem esforço e praticidade móvel.
Também, não quero dizer com isso, que ao longo dos anos, tanto os homens quanto as mulheres, não tenham evoluído suas formas de lhe dar com os desafios e incongruências gritantes na mudança da cultura. Homens, passam a assumir tarefas que anteriormente exigia maior esforço por parte das mulheres e vice-versa.
Para a maior parte do público feminino, os maiores contratempos a serem enfrentados neste período, (...) está entre a incompreensão do parceiro masculino e nos problemas de causa social.
É preciso tornar esta fase mais saudável. Evitar conflitos internos e externos entre a mulher e si mesma; entre a mulher e os amigos; colegas de trabalho, do colégio, da universidade; marido e filhos.
Problemas sazonais de saúde física e mental, vinculados ao ciclo menstrual, estão interligados as mudanças de gerações, ressalta o jornalista Pedro Nunes ao citar um trecho do livro de Joel Rennó Junior, médico e psiquiatra.
Pesquisas feitas no Hospital das Clínicas no Programa de Atenção à Saúde Mental da Mulher, apontam que no passado, as mulheres geralmente ovulavam cerca de cento e sessenta vezes ao longo da vida e que atualmente, chegam ao número de quatrocentos e cinquenta ovulações.
O médico Psiquiatra ainda ressalta, que as mulheres entravam na sua vida fértil aos dezesseis anos de idade e que tinham filhos entre os dezoito aos dezenove anos, enfrentando várias gestações até a interrupção do ciclo menstrual. Já atualmente, esse índice muda. Segundo informações retiradas da CID 10 - Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde, as mulheres engravidam aos doze, com uma quantidade menor de gestações e bem mais tarde.
Todas essas alterações contribuem indiretamente nos problemas relacionados a TPM quanto ao TDPM - Transtorno Disfórico Pré-menstrual, e não há tratamento especifico para tais mudanças hormonais contínuas no ciclo de vida natural das mulheres, o que demanda maior atenção aos aspectos produtores dos sintomas e dos reflexos sociais e pessoais.
Das alterações do humor as queixas de ordem social, todas elas repercutem grandemente e causam tremendo mal-estar. Algumas investigações, apontam que existem atividades que parecem aumentar os níveis de serotonina no nosso cérebro, entre elas posso listar: pensar positivamente, sair de casa e mudar a rotina, praticar exercícios físicos, mudar a dieta para a prática de uma alimentação saudável - rica em nutrientes específicos à cada situação. Então vejamos:
Opte em pensar positivamente. Estudos estão sendo feitos para verificar como nossos pensamentos influenciam o metabolismo do nosso cérebro. No entanto, não é novidade que a psicoterapia, por exemplo, pode alterar este metabolismo. Tente ver o lado bom das coisas e das pessoas ao redor, não focar somente nos problemas. Na entrada inevitável dos contratempos, saiba usar deste mecanismo para crescer, pensar em soluções e entrar em contato consigo mesma. Opte pelo silêncio e pela aceitação da readaptação.
Saia de casa. Se expor à luz do sol, pode fazer nosso corpo produzir mais serotonina. Sair de casa também acaba sendo uma boa oportunidade para se engajar em novas atividades e conhecer mais pessoas.
Tente não perder noites de sono. Noites de sono perdidas, pode interferir na produção do hormônio chamado “melatonina” que irá regular a qualidade do descanso e conduzi-lo de maneira natural.
Pratique exercícios físicos regularmente. Sabe-se que praticar exercícios de forma regular tem um efeito antidepressivo e ansiolítico. Os melhores resultados são vistos quando a pessoa está acostumada a fazer exercícios aeróbicos. Os resultados não vêm da noite para o dia, mas chegam à medida que se torna um hábito na vida de uma pessoa. Você certamente notará a diferença ao assumir a postura da reeducação física e corporal. Das muitas substâncias produzidas pelo corpo durante os exercícios físicos, uma chama a atenção em especial: a endorfina. Ao contrário das demais, ela promove alívio das dores após uma determinada carga de exercícios. Não por acaso, a palavra traz em si mesma a ideia de "morfina" e costuma ser descrita, por alguns especialistas, como uma espécie de "analgésico natural" presente no corpo humano. Não são todos os exercícios físicos que provocam no indivíduo aquela indescritível sensação de relaxamento e bem-estar, porém, os predominantemente aeróbicos, que requer, também, certo nível de reeducação da respiração, são os mais eficientes nesses casos - assegura o fisiologista Raul Santos de Oliveira. OLIVEIRA cita três dos exercícios aeróbicos mais comuns e que produzem maior benefício na liberação de neurotransmissores importantes na regulamentação do estado orgânico das mulheres, são eles: a caminhada, a corrida e a natação. Mas o médico fisiologista também enfatiza: O melhor esporte que existe, é aquele em que o indivíduo pratica [simplesmente] por prazer.
Mude a dieta. Algumas substâncias podem melhorar o nosso humor no dia-a-dia, como, por exemplo, o triptofano e a lactoalbumina - presente no leite. Além disso, uma boa alimentação poderá te fazer se sentir melhor, e melhorar a sua autoestima. Uma alimentação rica em tirosina, triptofano, carboidratos e ácido fólico, estimulam a produção da serotonina e ajudam no bem estar psicológico e emocional, desde que sejam consumidos de forma consciente e equilibrada. Vale ressaltar: o desiquilíbrio dos neurotransmissores, pode causar o oposto do resultado esperado em casos de abuso desses alimentos.
Voltando agora a nossa atenção aos homens, segue a dica de que vale pensar sobre o assunto e ao menos tentar compreender os sintomas da tensão e do transtorno relacionados ao período fértil da mulher. Também, seria legal contribuir, ajudando-as com relação as dicas sobre a postura que devem adotar para a suavização dos efeitos, juntamente com o tipo de alimento que devem ser consumidos.
Ao desenvolver este artigo, tomei o cuidado de fazer uma pesquisa rápida de campo. Procurei através de um sistema de enquetes, descrever os sintomas decorrentes na mulher no seu período pré-menstrual e fui atrás te algumas mulheres, sendo a maior parte delas, psicólogas comportamentais. Vejamos os resultados:
A falta de neurotransmissores essenciais neste período, como já vimos, pode causar na mulher mudanças e alterações. Essas mudanças e alterações vão do aumento da irritação, à intolerância, falta de paciência, profunda tristeza, mal-estar e incapacidade de empatia.
A falta de paciência é um sintoma. Não se tem paciência de explicar o que para elas mesmas seria tão obvio a ponto de não conseguirem ser parcimoniosas no sentido de explicar alguma coisa.
As mulheres nestas horas - ressalta uma das entrevistadas - poderiam ser grosseiras, no que, em outros momentos, teriam total calma e equilíbrio para responder. Um exemplo claro, seria apontar uma discussão que a mulher, submetida aos efeitos da TPM ou do TDPM, diz ao colega de trabalho: “Cesar (pseudônimo), você é muito incapaz!” - O que em outra circunstância diria: “Calma, acho que eu me expressei mal, vou tentar explicar-lhe novamente.”
Existe uma dificuldade da mulher, nestas horas, de se colocar no lugar do outro, o que causa espanto em ambos os lados. Essa incapacidade, não se trata de algo que integre o mundo de uma mulher. Aliás, a todo tempo ela é programada para se desenvolver e se adaptar muito melhor ao meio social que os homens. Se o chefe do setor de trabalho, fizesse uma corriqueira advertência neste período, por exemplo, uma mulher em estado de TPM, poderia chorar compulsivamente e criar um campo “histérico” no ambiente de trabalho - se tornar mais melindrosa e sensível na frente dele, seu chefe - ao passo que, em casos normais, ela pensaria e agiria normalmente.
A raiva é potencializada e intensificada. Sentem-se ofendidas e atribuem culpa e responsabilidade a elas mesmas por qualquer coisa que venha acontecer nessas horas. A mulher expressa mais raiva que em outros momentos normais. Vingança e competitividade, são marcas registradas e estimuladas por questões de baixa autoestima. A mulher, automaticamente fica com olheiras e se vê na obrigação de carregar mais na maquilagem, por exemplo, pontua nossa entrevistada.
Nesta hora, também, há vários pensamentos que se ocupam estrategicamente da cabeça de uma mulher: “Minha colega vai se relacionar e eu não, vai sair e eu não posso, porque eu estou com olheira, inchaço e menos apresentável?” Essas sensações experimentadas pelo sexo feminino na fase do seu período antecedente a preparação do seu corpo para a fertilização, lhe causa ódio e sentimento de vingança. O instinto fala mais auto e para elas, é como se todos os homens, tivessem de ser arrebanhados para si para que pudesse ocorrer a fecundação.
O incomodo é forte, e a dor do outro não importa tanto. A boca não tem filtros, e acabam por falar coisas que se arrependem depois. Há muita sensibilidade nesta hora, e uma, à outra se entende, ao contrário dos homens.
Os homens têm o incrível hábito de perguntar sempre a mesma coisa todos os meses. Segundo uma das mulheres entrevistadas, os homens ficam perguntando coisas sem nexo e que intensificam a irritação ainda mais. A mulher, é automaticamente obrigada a responder sempre às mesmas perguntas do tipo: “Por que você está nervosa? Por que você está chorando atoa? O que eu fiz com você para você ficar assim?
Todo esse discurso em torno de um mesmo assunto recorrente a vida e a saúde da mulher, volta-se na tentativa de tentar explicar, que um dos maiores desafios de uma mulher com relação ao seu ciclo menstrual, está no desinteresse da maior parte dos homens de procurar entender essas alterações todas.
Mudanças essas, reitero, causadas por fenômenos hormonais, podem, também, estar relacionadas a maneira como a mulher acolheu em seu estado psicológico, a chegada de sua primeira menstruação na fase de puberdade.
Para encerrar o nosso assunto, faço as seguintes observações finais:
É importante deixar muito bem esclarecido que, os sintomas variam de uma mulher para outra, e que as alterações também serão diferentes de acordo com esses sintomas.
Um número maior de mulheres sofrerá os sintomas relacionados a TPM e outras, por sua vez - número menor delas, terão sinais correspondentes de quem sofre do Transtorno Disfórico e Pré Menstrual. Portanto, de igual modo, seria imprescindível a visita as clínicas especializadas na saúde da mulher para entender melhor estes sintomas.
Caso os sintomas apareçam com maior severidade, causando maior desconforto que o normal na maioria das pessoas do sexo feminino, deverá ser devidamente tratado com uso de medicações especificas e diferentes a cada paciente. Há alguns tratamentos que utilizam inibidores seletivos da receptação da serotonina que poderão aliviar os sintomas relacionados ao TDPM por exemplo, mas repito, só faça uso de qualquer medicação, com a ajuda de um profissional devidamente credenciado da área da medicina.
Segundo fontes de pesquisas realizadas e publicadas pela Psychotherapy and Psychosomatics, apesar de algumas diferentes metodologias aplicadas nas intervenções psicoterápicas, de forma geral, a terapia pode reduzir, de maneira significativa, os níveis de depressão e de ansiedade das pacientes. A terapia pode favorecer mudanças de comportamento, diminuindo a interferência dos sintomas.
Espero que este artigo tenha esclarecido e contribuído. Também, espero de igual modo, ter ajudado a reforçar o assunto aos leitores da classe feminina. Deixar claro o importante papel que uma boa alimentação aliada a um bom período de exercícios físicos, reeducação de hábitos e rotinas, podem fazer para aliviar, reduzir e suavizar o desconforto.
Anseio que cada um de nós tenhamos plena consciência do papel fundamental que cada um tem, de contribuir para um convívio social saudável e elementar.
Sobre todas as dicas, algumas delas, ainda prevalecem em momentos de tensão: o silêncio, o respeito, a educação e a posição por manter uma certa distância em momentos de crise. Estas, certamente, ainda são atitudes muito eficazes nessas horas de tensão.
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Fontes de pesquisa: Dicionário de Palavras Interligadas - Analógico e Ideias Afins - Kurt Pessek; Revista Psique – Editora Escala de Publicações; Revista Mente e Cérebro – Editora Duetto; Livro Mentes Femininas – Ediouro 2008; Revista Viva Saúde – Editora Escala; Site da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira – Albert Einstein; Revista de Psiquiatria Clínica – Gislene C. Valadares.
Enquete concedida pela: Psicóloga e Bacharel em Esquizoanálise/ Esquizodrama, Dra. Wanessa Armond.