Por: José A. Nogueira
A depressão era conhecida na antiguidade como "melancolia", uma palavra de origem grega, melas (negro) + kholé (bile) = "Bílis Negra". Termo utilizado na filosofia, na literatura, na medicina psiquiátrica e pela psicanálise para designar certo sofrimento da alma, caracterizado por um estado de humor sombrio e por uma sensação de tristeza profunda. 1
Uma doença causada principalmente por motivos externos como a perda de alguém ou de algum objeto de grande significado e valor. O rompimento de um namoro, noivado ou casamento, por exemplo, até a ruptura de outros laços e vínculos sociais como o desligamento de uma igreja, empresa ou estatal.
O comportamento cada vez mais hostil da sociedade moderna com suas facetas narcisistas (egoístas) e intolerância social, o alto índice de relacionamento virtual marcando a nossa geração e abruptamente desfocando a atenção aos relacionamentos cara a cara causando sensação de solidão, desprezo social e baixa autoestima, são também, considerados como os principais fatores causadores da doença.
Segundo artigo publicado no site oficial da BBC de Londres no Brasil, a depressão é a segunda causa mais comum de invalidez em todo o mundo. Apontamentos da doença nos registros do DSM (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), a depressão é uma desorganização psiquiátrica muito mais frequente do que se imagina.
Estudos recentes reiteram que 10% a 25% das pessoas que procuram os clínicos gerais apresentam sintomas de depressão.
Gary Collins, psicólogo norte americano e autor do livro "Aconselhamento Cristão - Edição Século XXI", afirma que, segundo estatísticas da Organização Mundial de Saúde, a OMS, estima-se mais de 100 milhões de casos no mundo todo, sendo, 2 a 3 por cento dos homens envolvendo risco de morte e 4 a 9 por cento das mulheres.
Essas porcentagens são semelhantes ao número de casos de hipertensão e infecções respiratórias que os clínicos atendem em seus serviços. Ao contrário dessas doenças, entretanto, eles não costumam estar preparados para reconhecer e tratar depressões, onde entra o papel dos especialistas da matéria "psíquica", ou seja, da nossa alma humana, sede das emoções, cognição e ação. Entre os principais podemos citar: os médicos psiquiatras, psicólogos clínicos e psicanalistas.
Os estados depressivos variam de acordo com a semiologia (ou sintomas) evidenciados de um paciente para o outro; desde características genéticas ao histórico de vida do indivíduo. Estão classificados na CID 10 (Tabela de Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados a Saúde), como uma doença que tem caso clínico de "episódio depressivo leve" a um "episódio depressivo não especificado".
Conforme o livro de Paulo Dalgalarrondo, "Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais", nós temos os seguintes tipos de depressão:
1. Episódio ou Fase Depressiva e Transtorno Depressivo Decorrente;
2. Distimia;
3. Depressão Atípica;
4. Depressão Tipo Melancólica ou Endógena;
5. Depressão Psicótica;
6. Estupor Depressivo;
7. Depressão Agitada ou Ansiosa;
8. Depressão Secundária ou Orgânica.
Observe agora, uma lista com os principais sintomas das síndromes depressivas:
1. Lentificação psicomotora: demora por responder perguntas ou inúmeros brancos;
2. Perda de apetite ou peso corporal;
3. Alterações do sono, principalmente, apresentação de "insônia terminal" (acordar na madrugada e não dormir mais);
4. Anedonia: incapacidade de sentir prazer em várias esferas da vida, incluindo atividades normais que costumam ser a fonte de prazer natural entre as pessoas em estado comum como: lazer, piqueniques, passeios ao parque, futebol, chá entre irmãs de terceira idade, uma passado do shopping, fazer compras, uma viajem, entre outras atividades responsáveis na liberação de hormônios do prazer como a dopamina, a serotonina e a endorfina;
5. Tristeza em auto nível pela manhã, com melhoras ao longo do dia;
6. Hiporreatividade geral: vontade de fazer mil e uma coisas ao mesmo tempo em determinados dias e com menos frequência durante o mês;
7. Tristeza vital: um tipo de angústia sentida no corpo;
8. Diminuição da latência do sono REM: inversão, troca do dia pela noite;
9. Idealização de culpa: sentir-se culpado de maneira exagerada e improvável;
10. Oscilações de humor: maior período em estado de profunda tristeza e melancolia alimentada por pensamentos involuntários e recordações da sensação de perda;
11. Episódios de Pânico: taquicardia, sentimento da mente pesada, dor no peito, ansiedade mórbida, medo da morte iminente ou sensação de surto e medo de enlouquecer.
Caso você apresente entre 5 (cinco) ou mais sintomas enumerados aqui nesta lista, aconselho que busque por ajuda clínica ou de um especialista na área psíquica, conforme relacionamos acima, anteriormente: desde um clínico geral, ao médico psiquiatra, um psicanalista ou um psicólogo clínico.
Biblicamente, por exemplo, encontramos inúmeros casos que poderíamos usar como sendo casos de depressão nos seus personagens. No contexto histórico dos mesmos obtemos sinais possíveis da doença na civilização da época. Percebemos isso através do estilo de vida que levavam e dos sintomas que apresentavam.
O levantamento biográfico dos personagens da Bíblia através da teologia, nos leva a acreditar na possibilidade de um estopim depressivo.
Entre os casos que podemos exemplificar temos o clássico exemplo de Elias, o profeta que desafiou os quatrocentos e cinquenta profetas de Baal. Depois de sofrer as ameaças de Jezabel, filha de um sacerdote de Tiro e Sidom e responsável pela implantação e fomentação do culto a Baal em Israel, Elias se retira para um ambiente distante da sociedade na época e se esconde em uma caverna na tentativa de refugiar-se do medo e da angústia causados pela doença. 2
A diferença entre a atitude do profeta em se esconder e ter medo ante as ameaças da filha do sacerdote de Tiro e Sidom, não são diferentes mediante os sintomas mais comuns da depressão.
Elias, reitero, se esconde em uma caverna fora da civilização e acredita estar sendo vítima de uma conspiração. Acredita ser o único que restou em Israel que adorava a Deus. Elias em seu ânimo suplicava pela morte.
Desejo de morte, figa, medo e insegurança são alguns dos traços semiológicos da doença.
Em alguns casos apontados nas discussões entre profissionais da área das psicoterapias sobre o comportamento dos seus pacientes relatados no setting analítico 3, nós nos deparamos com pessoas portadoras deste tipo de transtorno que, ao evidenciarem os sintomas da doença, entre os mais comuns estão: a exclusão social (se excluir da civilização e se afastar das pessoas), o medo, a ansiedade e principalmente pensamentos de conspiração e de morte. Uma sensação de incompreensão que as levam crer que estão sozinhas num mundo de pessoas que não conseguem compreender o seu estado.
Podemos citar também como exemplo, a expressão do salmista registrada no salmo número cento e dezesseis, verso três: “Os cordéis da morte me cercaram, e angústias do inferno se apoderaram de mim; encontrei aperto e tristeza”. 4
Desejo de morte, angústia, aperto e tristeza, sintomas característicos de uma pessoa em estado depressivo.
O caso é bem sério e as consequências variam da perda de um relacionamento às crises de angústia, alterações do sono e estado de humor. Do completo desespero e insatisfação diante da vida ao desejo de morte através do suicídio consciente e inconsciente mediante a ingestão de um número excessivo de psicofármacos.
Espero que este texto tenha sido útil e esclarecedor, mas, lembre-se: caso apresente 5 (cinco) ou mais sintomas enumerados na lista, procure por orientação médica ou de um profissional da saúde mental capacitado a lidar com casos de depressão.
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1. Dicionário de Psicanálise - PLON e ROUDINESCO.
2. Cf.: I Reis 19.1-16.
3. Setting de Análise é o local ou o lugar onde acontece o trabalho psicoterapêutico entre paciente e analista.
4. Cf.: Salmos 116.3.